COM A CADEIRA NA CABEÇA, LÁ VAI MARIA…
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COM A CADEIRA NA CABEÇA, LÁ VAI MARIA…

Coluna de Carlos Costa

Coluna de Carlos Costa


Com uma cadeira de balanço na cabeça, “lá vai Maria”, sem conseguir o que o que queria. Poderia ser a música“Lata D’Água”, composta há muitos anos pelos geniais letristas Luís Antônio e Jota Júnior, gravada pela cantora Marlene, mas não é! Em meio a tantas péssimas notícias – relatório do desperdício de água no Brasil, sátiras inteligentes e bem-humoradas de execuções de presos como uma advertência ao Ocidente, um surpreendente pedido de clemência da Indonésia – depois que executou e não aceitou o pedido de clemência feita em favor de um brasileiro  – à Arábia Saudita, presos mandando nas cadeias, usando celulares, facões, drogas como se estivessem em liberdade, apagões de energia sem explicações ou com muitas explicações contraditórias e sofríveis, com ameaça de demissão do Ministro das Minas do Governo Dilma, empossado há 22 dias Eduardo Braga – uma informação específica de uma mãe que acordou de madrugada, foi esperar ficha na porta de uma Escola em Manaus, voltou para casa sem conseguir matriculá-lo na Escola perto de sua casa, me chamou a atenção, primeiro porque ela não conseguiu acordar mais cedo e ser uma das primeiras da fila, depois pela insistência das Secretarias de Educação do Estado e do Município de aconselhar os pais a procurarem vagas na internet, como se todos tivessem acesso a essa ainda precária e cara ferramenta de comunicação,  me chamou a atenção. Pode uma coisa dessas?

Essa cena aconteceu em Manaus, na porta de uma Escola, onde havia uma fila de cadeiras de balanço e outras de vários tipos, inclusive com os nomes das proprietárias. Mas poderia ter acontecido em qualquer outra parte do Brasil, em qualquer porta de qualquer Escola, porque o problema é sério e as mães são apenas “Maria’s” pobres, sem muita cultura e preferem madrugar na porta das Escolas, lutar por uma senha para não serem atendidas com respeito e dignidade. Frustradas por não conseguirem vagas perto de suas casas, colocam as cadeiras na cabeça e voltam para suas casas, subindo as ruas, levando a “pela mão a criança”, tendo que explicar aos pobres inocentes e indefesos que não conseguiu a vaga que queria, principalmente em creches que não existem e aumentou muito a necessidade depois da criação da Lei das Domésticas. Como explicar a uma criança que quer estudar essa decepção?

São mães que, como diz a composição da música, que voltam no dia seguinte as mesmas Escolas em todo o Brasil, mas que vivem como domésticas “lutando pelo pão de cada dia/ sonhando com uma vida  (digna), no asfalto/que acaba/Onde o morro principia”. Essa verdade, é o que menos importa, porque o que importante é o voto delas nas urnas e manter a total bagunça que se tornou o processo de renovação de vagas nas Escolas Públicas e muitas particulares também do Brasil. No passado, além de se respeitar mais a Educação, o aluno só era obrigado a trocar de Escola quando não houvesse mais a série que ele faria. Agora, não! Nada é automático e todo ano os pais e as mães têm que renovar matrícula. Se for em Escolas particulares,  pagando preços caríssimos, o que poucas famílias podem honrar.

Na década de 70, mudei do Grupo Escolar Adalberto Vale, no bairro do Morro da Liberdade, onde cursei as primeiras quatro séries do antigo curso primário para a recém-inaugurada Escola Dorval Porto, no antigo Crespo e cursei até a antiga 8a série (hoje Ensino Médio), mas só confirmei a matrícula em uma lista datilografada que já se encontrava na secretaria da nova Escola. Como na Escola só tinha até a 8a série, me transferi para o Gynásio Amazonense, na Avenida 7 de Setembro, onde cursei meu primeiro ano do 2o Grau e novamente optei pelo ensino profissionalizante de magistério e terminei concluindo-o para ser professor de 1a a 4a série no Instituto de Educação do Amazonas. Entrei no curso de Comunicação Social em seguida e tornei-me professor universitário, teórico social e autor de vários livros de crônica, científicos, filosóficos

Hoje, em plena era da tecnologia, onde tudo pode ser feito pela internet, não entendo porque famílias são obrigadas a dormir na fila, em cadeiras de balanço ou qualquer cadeira que tenham em casa, colocar seus nomes em placas como se fosse uma reserva de local, enfim, enquanto as Secretarias de Estado e do Município insistem em mandar os pais reservarem as vagas pela internet. Das duas uma: ou nossos gestores educacionais vivem em outro planeta onde tudo funciona na velocidade da luz ou perderam a noção do ridículo: se fosse tão fácil usar a internet, por que não cruzariam os dados dos alunos, identificariam qual a Escola mais próxima da casa do aluno e fariam as matrículas automaticamente? Ou será que não confiam na qualidade da internet que mandam os pais e as mães usarem? Pode ser!

Pode uma coisa dessas?

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