Josiel Barros Um rio caudaloso em pleno sertão da Bahia, na região de Irecê. Seria isso possível?
Foto de Evani Rodriguês América Dourada Sim. Perfeitamente possível; e esse rio já existe e é desconhecido de muitos. Trata-se do Rio Jacaré, também conhecido “Vereda Romão Gramacho”, com 250 km de extensão. Nasce entre os municípios de Barra do Mendes e Seabra e corta os municípios de Barra do Mendes, Barro Alto, Canarana, Cafarnaum, América Dourada, São Gabriel, Morro do Chapéu e Sento Sé onde se tornando afluente do São Francisco.
No passado, o rio Jacaré foi muito importante para o sertão baiano. Fixou o homem em suas margens e fez nascer cidades. O gado vinha de longe beber de suas águas e os peixes eram abundantes. Traíras, Piau, Mandinho e até jacaré tinha. Talvez seja esse o motivo do seu nome.
Apesar de não ser um rio perene as águas permaneciam o ano todo através dos poços, barramentos naturais e quando chovia, o rio descia enchendo tudo de novo.
Essa realidade ficou muito distante. O rio está morto. Nem mesmo as chuvas são capazes de revitalizá-lo.
Morreu de morte lenta e gradual e foram muitas as suas causas além da mais importante: Abandono do poder público.
Com o avanço do cultivo para suas margens, sem a caatinga, o solo ficou desprotegido favorecendo o surgimento de erosão através das enxurradas. As águas das chuvas arrastam terra e cascalho causando outro fenômeno, o assoreamento que é o acumulo desse material e toda matéria orgânica no leito do rio.
Árvores invasoras, como a leucena e algaroba, de porte alto e de exigência hídrica tomaram as margens do rio contribuído para o assoreamento com suas folhas e galhos sem contar o consumo de água.
O uso desenfreado da água do subsolo para irrigação causando o impacto em todo lençol freático da região.
Construção de várias barragens pelo governo do estado ao longo do rio se mostrou ineficiente e açodada. Impediu que a águas descesse no leito do rio e as retidas se secaram rapidamente.
O rio morreu diante dos olhos de muitos expectadores. Autarquias, ministérios, políticos e governantes discutiam a revitalização do Rio enquanto ele morria. E morreu.
A CODVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, Em 2013, soltou uma nota afirmando que o Rio Jacaré iria ser perenizado. Apresentou a empresa contratada, o valor do investimento de R$ R$ 1,1 milhão e a fonte dos recursos, que seria do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento e ainda, as cidades beneficiadas: Canarana, Ibitiara, Seabra, Brotas de Macaúba, Souto Soares, Barra do Mendes, Ipupiara, Mulungu do Morro, Barro Alto, Bonito, Cafarnaum, Ibipeba, Ibititá, América Dourada, Morro do Chapéu, João Dourado, Lapão, São Gabriel, Jussara, Itaguaçu da Bahia, Ourolândia, Umburanas e Sento Sé.
“Fiquei muito feliz quando soube da realização dos estudos porque sempre foi um sonho nosso, dos agricultores, da sociedade civil, de todos da região. Ficamos mais felizes ainda participando dessa reunião de apresentação da empresa e já convocamos uma reunião com o comitê para anunciar essa boa nova para todos. É muito importante para uma área semiárida como essa recuperar um rio que está praticamente morto. Quando o rio tinha água, o nosso lençol freático era ótimo. Com a revitalização, temos esperança de recuperar a qualidade dele”, destacou, na época, Ednaldo Campos, presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Rios Verde e Jacaré.
Pelo visto, mais uma vez não saiu do papel. De um sonho antigo passou a ser um pesadelo. O que parecia a revitalização tão proclamada acabou em mais uma frustração. O rio se encontra cada vez pior: Seco em quase todo o seu percurso.
Para o pesquisador Maykon Mendes, as barragens são construídas de forma desenfreada e sem qualquer fiscalização. “Além de impedir a passagem da água, as barragens não têm nenhuma viabilidade econômica porque não produzem energia elétrica... A alternativa mais eficaz para salvar o rio, seria o rompimento das barragens”.
Apesar de concordar, em parte com o pesquisador Maykon, há uma forma mais fácil e rápida de se revitalizar o rio Jacaré: A transposição do Rio São Francisco que dista um pouco mais de 100 km, fazendo-o desaguar nos limites da cidade de Barra do Mendes e escorrer por toda a sua extensão. Esse trabalho poderia ser feito por canais ou meramente por dutos iguais aos que servem água do Velho Chico às cidades da região de Irecê. A tecnologia já existe e a tubulação também, o que falta é vontade política.
https://www.codevasf.gov.br/noticias/2013/estudos-de-viabilidade-para-revitalizacao-do-rio-jacare-ja-foram-iniciados
https://www.redegn.com.br/?sessao=noticia&cod_noticia=72016#:~:text=Segundo%20o%20pesquisador%20em%20projetos,porque%20n%C3%A3o%20produzem%20energia%20el%C3%A9trica.
Parabéns boa reportagem!!