Eleitores evangélicos são a maior ameaça a Lula na eleição presidencial de 2018.
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Eleitores evangélicos são a maior ameaça a Lula na eleição presidencial de 2018.




Por Julio Severo

Reportagem da Folha de S. Paulo de outubro passado revela que evangélicos são a maior ameaça para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial de 2018.



Essa ameaça acontece porque, mais preocupados com valores morais, os evangélicos rejeitam o aborto e a agenda gay e buscam candidatos mais próximos de valores conservadores. De acordo com a Folha, a maioria dos eleitores evangélicos rejeitará Lula escolhendo as opções disponíveis, especialmente Jair Bolsonaro e Marina Silva.

Na eleição presidencial de 2014, muitos eleitores evangélicos votaram em Marina, não porque entendiam as posturas socialistas radicais dela, mas porque ela era falsamente retratada como “conservadora,” isto é, como uma candidata abertamente oposta ao aborto e à agenda gay. Na realidade, Marina nunca foi clara nessas duas questões.

Tive uma grande batalha em 2014 para revelar para o público evangélico no Brasil e nos EUA que a imagem conservadora de Marina era falsa. Grandes líderes evangélicos se comunicaram comigo pedindo que eu parasse de escrever contra ela, para não atrapalhar uma possível eleição dela. Mas tive de continuar escrevendo conforme minha consciência cristã me orientava, pois não era e não é certo aceitar uma imagem conservadora em quem não dava honra ao conservadorismo.

Graças aos muitos alertas, a população evangélica tem agora um pé atrás com o falso conservadorismo de Marina. Muitos eleitores evangélicos não mais a veem como opção.

Por falta de opção, os eleitores evangélicos que não querem de forma alguma ver Lula ganhar estão optando por Bolsonaro, que tem uma carreira política, desde a década de 1990, envolvida em causas direitistas, especialmente a defesa intransigente do antigo regime militar.

Reconhecendo o poder dos evangélicos, houve em 2016 uma tentativa desastrada de criar um “Bolsonaro evangélico,” com sua ida a Israel e especialmente seu batismo no Rio Jordão, realizado pelo Pr. Everaldo, presidente do Partido Social Cristão (PSC) e pastor assembleiano.



Apesar da desastrosa propaganda do batismo no Rio Jordão, foi exatamente graças à ajuda inicial do Pr. Everaldo que a imagem de Bolsonaro cresceu entre evangélicos. Esse esforço todo redundou nos resultados vistos em outubro de 2017:

* Reportagem da Folha de S. Paulo teve como manchete: “Evangélicos impulsionam Bolsonaro e Marina e derrubam Lula, diz Datafolha.”

* Reportagem do GospelPrime, o maior portal evangélico do Brasil, teve manchete semelhante: “Eleitor evangélico ajudou na ascensão de Bolsonaro.”

Tradicionalmente, os evangélicos são muito mais hostis à esquerda do que os católicos, que têm tradicionalmente mais abertura para ideias socialistas.

A força evangélica contra a esquerda não é só reconhecida no Brasil. Em agosto passado The Nation, a revista progressista mais antiga dos EUA (publicada desde 1860), disse que os evangélicos do Brasil são a maior força conservadora e a maior resistência ao socialismo no Brasil.

Apesar de que reconhecidamente uma possível eleição de Bolsonaro depende dos evangélicos, ele não tem conseguido demonstrar muito bem sua simpatia por essa força. Grupos extremistas na base de Bolsonaro atribuem a ascensão dele ao astrólogo Olavo de Carvalho, que vive como imigrante autoexilado nos Estados Unidos.

Bolsonaro respondeu a esses grupos extremistas, que não têm força suficiente para elegê-lo, com a promessa de um cargo de ministro para o astrólogo. Confira a promessa de Bolsonaro neste vídeo: https://youtu.be/XWx3wzh0dVE

Fica, no mínimo, estranho Bolsonaro, que não ofereceu nenhum cargo de ministério para Silas Malafaia e outros pastores (mesmo depois de Malafaia ter realizado o terceiro casamento dele) prontamente dar tal cargo a um líder ocultista que xinga abertamente os pastores.

Fica mais estranho ainda os evangélicos serem a maior chance política de Bolsonaro, mas ele entregar toda a glória a um mero astrólogo, que desculpa a Inquisição, que torturava e matava judeus e evangélicos.

Esses grupos direitistas extremistas, também chamados de olavetes, berram contra toda atitude esquerdista anticristã.

Mas os sentimentos dos esquerdistas não são muito diferentes do que o astrólogo sente. Quando o astrólogo faz pouco caso da Inquisição, ele faz pouco caso de se matar evangélicos e judeus.

Por que até agora Bolsonaro não se manifestou para denunciar a propaganda da Inquisição feita por um imigrante brasileiro nos EUA que é insistentemente procurado por seus próprios filhos?

Se Bolsonaro sabe repudiar os sentimentos anticristãos dos esquerdistas, por que, em vez de repudiar os sentimentos antievangélicos do propagandista da Inquisição, ele promete um cargo de ministro para o propagandista?

A contradição de Bolsonaro não é visível apenas nesse caso, onde ele dá apoio a um astrólogo antievangélico em detrimento da força incomparável dos eleitores evangélicos.

Embora já tivesse um longo histórico direitista de defesa intransigente do antigo regime militar, em 2002 Bolsonaro apoiou abertamente o deputado comunista Aldo Rebelo para ministro da Defesa. Ele então disse: “Vim tentar um espacinho na agenda do Lula para desmentir essa história de que o Aldo tem restrições nas Forças Armadas. Pelo contrário, é uma pessoa que entende do assunto e tem grande respeito… As coisas mudaram. Hoje, comunista toma uísque, mora bem e vai na piscina.”

Bolsonaro já manifestava apoio a Lula, conforme este vídeo: https://youtu.be/qaFT4kX3iL4

Fiel aos meus princípios conservadores, em 2002 eu estava fazendo campanha contra Lula, por ver nele uma ameaça socialista contra a vida e a família. Aliás, eu via Lula como ameaça desde a década de 1980. Nem Lula nem nenhum outro candidato socialista nunca foi opção para mim.

Se os evangélicos anti-Lula pretendem votar em Bolsonaro, é preciso compreender que nem sempre ele foi contra Lula e os comunistas. Quando Lula estava no alto, Bolsonaro mostrou simpatia. Agora que Lula é um cachorro morto e todos chutam, Bolsonaro dá seus chutes também.

Mas no caso de Aldo Rebelo, a mudança foi realmente nos comunistas ou em Bolsonaro?

Seu batismo no Rio Jordão foi uma mudança espiritual ou uma mudança de tática?

Ter apoio dos evangélicos e jogar beijos para um astrólogo antievangélico sinaliza mudanças ou oportunismo do jogo político sujo?

Marina Silva, que insisti durante anos que não era conservadora, era uma imagem falsa. E quanto ao Bolsonaro e suas ligações com o astrólogo? E quanto ao Bolsonaro e suas mudanças imprevisíveis?

Quantos tipos de Bolsonaros “mudados” os evangélicos brasileiros conhecerão antes, durante e depois das eleições?

Talvez um Bolsonaro que, depois de eleito, diga: “Se não fosse pelo astrólogo, eu não estaria aqui.”

Um batismo de sinceridade seria muito mais útil do que um batismo no Rio Jordão.

Contudo, o apoio evangélico não é garantido. Se aparecer um candidato realmente evangélico conservador, os eleitores evangélicos deixarão Bolsonaro, cuja eleição então dependerá exclusivamente do astrólogo e seus adeptos extremistas.

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