Coluna de Afa Neto: CONVERSÃO. #lsp
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Coluna de Afa Neto: CONVERSÃO. #lsp

Coluna de AFA aColuna de Afa Neto: CONVERSÃO. #lspETO: ESCANDALOSAMENTE HUMANO. #LSP

Coluna de Afa Neto: CONVERSÃO. #lsp


De repente chega. Sem aviso, sem planejamento e súbito. É desconcertante, é bom, é diferente, é… libertador. Não cabem definições, pois as palavras são de um mundo diferente daquele onde habita o sagrado. Mas o momento pede perenidade, o ato reclama por repetição e o êxtase se recusa a ser mero memorial. E da liberdade do amor não vigiado surge a tentação. Vem sorrateira, insinuante e cordial. Traz promessas de satisfação como se senhora fosse dos corações. Como se fosse capaz de transformar lampejos do Eterno em cotidiano. Mas como eternizar o efêmero que, como tal, precisa ser preservado? E então comemos do fruto da árvore da religiosidade e começamos a brincar de ser deuses. Da síndrome de deidade vem a confusão entre desejo e necessidade. O desejo existe para ser desejo; e como tal se realiza mais na intenção do que propriamente na concretização. Necessidade exige sempre realização. Desejo satisfeito nunca foi desejo, sempre foi necessidade. Desejo é saudade do que está para ser conhecido. Ele é sempre arredio aos cálculos, às estatísticas e às certezas. Necessidade alimenta o corpo, desejo sacia a alma. O Paraíso perdido buscado no além é desejo. A liturgia pensada para produzir sensação de bem-estar é necessidade. O Deus Totalmente Outro que conheço desconhecendo, de quem dependo com autonomia e a quem imagino sem nunca ter visto, é desejo. O deus domesticado que defino em minha teologia, que aprisiono em meus conceitos e de quem me aposso em minha liturgia, é necessidade. O Deus de quem sou sem possuí-lo é desejo. O deus que é meu à minha maneira é necessidade. O Deus indômito que é brisa habita o meu ser que deseja. O deus previsível dos dogmas habita o meu corpo que necessita. Do desejo nasce a religião; e esta, cultiva o sonho do reencontro num momento adiante de nós que não fazemos a menor ideia de quando seja. Da necessidade nasce a religiosidade; e esta substitui a utopia pela conquista. O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje. O maná que vem do céu, dá-nos apenas o suficiente para manter nossa alma desejosa e faminta.

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