Coluna de Josiel Barros: Crônicas os ilustres da terra. Prevenido
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Coluna de Josiel Barros: Crônicas os ilustres da terra. Prevenido

JOSIEL BARROS

Foto Blog Xique-Xique

Rodrigues formam uma grande família. Tomaram a parte norte da cidade e praticamente construíram um bairro e dali se espalharam para todo o povoado. A figura proeminente desse clã foi o Sr. Ernestino Rodrigues. Esposo de dona Lulu, uma senhora alegre e amável. Tiveram muitos filhos Alfredo, Ninha, Caboquim, Mariquinha e Velhim são alguns da sua prole e Ernestino era um empreendedor nato. Suas atividades rurais eram lucrativas e atendiam as demandas sociais.


Aquela manhã foi muito especial para mim. Minha mãe Dona Creuza nos chamou para segui-la até a casa de Farinha de seu Ernestino. Até então, não conhecia aquele trabalho. Lá chegando, fiquei deslumbrado com o que vi. Primeiro, porque a casa de farinha estava tomada por mulheres que assentadas ao chão descascavam as manivas da mandioca. Um empreendimento que dava muitos empregos aos munícipes. Depois vi o fogo ardendo em chamas embaixo do forno.


Piso feito com ladrilhos antigos era agora abastecido por massa prensada e bandejas de Beijus. Homens fortes com pás de madeira mexiam sem parar aquela massa que paulatinamente ia virando farinha seca.

Beijus e farinha ainda quentes eram retirados do forno e oferecidos aos visitantes que ali estavam. Um pouco mais no fogo a parte mais fina da farinha virava TAPIOCA ingrediente vital na confecção do cuscuz.

Também pude provar naquele dia a PUBA. O processo de obtenção da puba é feita a partir das raízes da mandioca que é colocada de molho num recipiente com água por sete dias. No final desse período, a mandioca deve estar mole. Escorre-se a água e lava o tubérculo por muitas vezes. Está pronto para ser ingerida. De início não gostei. Tinha gosto de mandioca podre, meio azedo. Depois nos serviram o bolo da Puba que já tinha um gosto mais palatável. Compramos alguns produtos e saímos felizes da vida.


Do outro lado do sítio dos Rodrigues ficavam a sede da fazenda e o Engenho de Cana. Também ali era uma festa e sempre visitava prazerosamente. Um ambiente adocicado pela simpatia dos que nos recebiam, mas também pelos produtos fabricados ali. Diferentemente da casa de Farrinha era ambiente dominado por homens. Carros de boi descarregavam canas aos montões ao lado do moinho. Homens limpavam as canas que eram colocadas na parte central do engenho tipo moeda gigante. Um rapazote guiava duas ou mais juntas de bois enquanto outro ia gritando e, às vezes, ferroando os animais para que não perdessem o passo.

O caldo de cana ia caindo como uma cachoeira em talhas de madeira. Parte era tirada e servida ai mesmo e o restante conduzido aos tachos que já estavam aquecidos pelo fogo. Dali, os produtos eram fabricados. Primeiro o MEL de engenho engarrafado e guardado para ser vendido na feira livre. Depois a PUXA, que é parte do mel que vai se transformando em rapadura e enrolado em uma haste de madeira, ainda amolecido pelo calor e transformado num feixe de puro sabor.

Logo adiante os tachos superaquecidos eram tirados do fogo e derramados em recipientes de madeira, divididos a cada 20 cm, formato da rapadura. Todo esse trabalho era repetido anualmente na produção de derivados da cana de açúcar.


Chegavam às festas juninas e toda comunidade se preparava para as fogueiras. Na parte mais alta da cidade destacava-se a mais famosa delas. A fogueira de Ernestino. Essa era diferenciada, pois contava com um grande pé de aroeira que era cortado e transportado inteiro para frente da casa. Ali era totalmente enfeitada com todo tipo de presentes: Canas, biscoitos, rapaduras, garrafas de pingas e, os mais disputados, cocos, cocos verdes bem amarrados com arame para não se soltarem facilmente. A ideia era justamente essa: Dificultar a sua retirada para ver o circo pegar fogo. Homens como Adelmo, Umberto, Quenio e Tonho Pau Ferro se preparavam antecipadamente e formavam estratégia para pegar a maior parte dos brindes.

A noite chega e a fogueira era acesa. Fogo, bombas e gritos, muitos gritos são ouvidos por toda parte. As brasas estralam, a árvore pende-se para um lado, corre todos pra lá, pendes para o outro, a multidão corre de volta para o outro lado e, de repente a fogueira vem abaixo. Dezenas, quiçá centenas de homens caem dentro dos galhos. Chamas de fogo e bombas eram lançadas no meio. Nada importava. Dali, chamuscados e até feridos pelas bombas, iam saindo pessoas carregando pedaços de cana, cocos verdes e demais premiações colocadas de antemão. Alguns sem nada, outros sem graça e feridos e alguns empunhando seus troféus. Fim de festa, agora só no ano que vem.


Ainda nesse espírito empreendedor, seu Ernestino formou um plantel de vacas de raça muito valiosa. A nossa PÉ DURO, hoje reconhecida nacionalmente como Currareiro. Animal rústico e adaptado as condições climáticas do semiárido. Era um grande rebanho que bebia no cacimbão e enchia todo aquele pátio. Ainda hoje vejo esse rebanho sob as posses do seu filho Caboquim pastando nos campos antigos do seu pai.

Enfim, foram esses os ilustres desta terra.

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