Lampião botado pra correr
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Lampião botado pra correr

Josiel Barros

Há exatamente 96 anos, o governador do sertão foi surpreendido pela coragem da pequena cidade do Rio Grande do Norte.

Em 13 de junho de 1927, Lampião pagou caro pela sua audácia em invadir uma cidade de 20.000 habitantes. Mossoró era uma das mais prósperas cidades do Rio Grande do Norte e mantinha uma agência do Banco do Brasil. E era justamente essa agência o alvo do grupo de bandoleiros mais temidos do Nordeste.


Na véspera de Santo Antônio a cidade estava tranquila. Um baile no Clube Humaytá foi realizado em homenagem ao santo casamenteiro. O rastapé corria solto e forró era seguro quando se ouviu o alerta: Lampião está vindo para Mossoró. “Em São Sebastião, a poucas léguas daqui, já incendiou o vagão do trem carregado de algodão, depredou a estação da ferroviária e arrasou a sede do telégrafo”, gritou um informante no meio do salão.

A notícia correu como rastilho de pólvora entre os festeiros que se encarregaram de espalhar por toda cidade. A noite foi um pavoroso. O apito da locomotiva da rede ferroviária suplantava o pânico dos mossoroenses e os convidava a fugir, narra o jornalista Lauro da Escóssia no livro Memórias de um Jornalista de Província.


Por toda a noite e até as primeiras horas da manhã de 13 junho, muita gente havia deixado suas casas em Mossoró e se escondiam nas fazendas e lugarejos que ficavam ao longo da trilha do trem. A cidade ficou vazia contando apenas com os defensores.

Lampião ainda tentou uma última cartada antes da invasão. Em carta ao prefeito Rodolfo, pediu 400 contos de réis para não atacar a cidade. O coronel Fernandes e seus homens disseram não a Lampião. “Não é possível satisfazer-lhe a remessa de 400 contos, pois não tenho e mesmo no comércio é impossível encontrar tal quantia. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem”.

Lampião bufando de raiva autorizou o ataque e ele mesmo ia à retaguarda de Sabino e Macilom que comandavam os pelotões.

O coronel Rodolfo Fernandes, prefeito da cidade, organizou a resistência. Reuniu cerca de 150 homens, armando-os e distribuindo nas diversas trincheiras. Na praça ficava o sobrado onde residia o prefeito, o Banco do Brasil, alvo prioritário dos bandidos e a igreja Santa Luzia. “Temo invadir uma cidade que tenha três torres de igrejas” havia dito Lampião ao observar ainda a São Vicente e a do coração de Jesus, todas transformadas em trincheiras de defesa.

Por volta das 16 Horas, debaixo de uma chuva fina, Lampião entrou na cidade com 53 cangaceiros ao seu lado. Subiu a principal rua cantando a música de sua autoria:

“Olê, mulé rendera. Olê, mulé renda. Tu me ensina a fazê renda. Que eu te ensino a namorá. Tu me ensina a fazê renda. Que eu te ensino a namorá”.

Enquanto a chuva caía, a praça virou campo de guerra. Os cangaceiros Colchetes e Jararaca foram alvejados e muitos outros ficaram feridos. Lampião com dois tiros de pistola autorizou toque de recolher e todo o bando partiu em fuga deixando seus mortos e feridos para trás.


A cidade estava salva e o feito heróico dos mossoroenses inicia o declínio do cangaço no Nordeste. Agora Lampião sabia que não podia tudo.


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