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PT baiano revela pela primeira vez em 12 anos estratégia para sucessão em Salvador


É visível que algo mudou na postura do PT baiano em relação à sucessão em Salvador. Desde 2012, quando o partido disputou e perdeu para ACM Neto (União Brasil) o Thomé de Souza concorrendo com o então deputado federal Nelson Pelegrino, um nome orgânico da legenda que perseguia o sonho de ser prefeito antes mesmo de a sigla conquistar o governo do Estado, os principais líderes petistas deixaram de demonstrar interesse em pleitear, de forma competitiva, a Prefeitura da capital. Em 2016, prevendo que Neto seria imbatível na reeleição, o partido sequer lançou candidato.


Então, havia o entendimento de que, gozando de excelentes índices de aprovação, não valeria a pena ao governador Rui Costa (PT) patrocinar uma candidatura cuja derrota, certeira, cairia em seu colo. Foi assim que arranjou-se para enfrentar um prefeito fortalecidíssimo, que acabaria se reelegendo com 74% dos votos válidos, a candidatura da deputada federal Alice Portugal, de um outro partido da base, o PCdoB, da qual, aliás, Rui buscou, na campanha, manter distância mínima regulamentar para não sujar sua imagem com um fracasso que já era aguardado por todos.


Quatro anos depois, quando Neto, igualmente empoderado por uma gestão cujos índices de aprovação o consagrariam como um líder político e administrativo no Estado, apostou no nome do amigo e correligionário Bruno Reis (União Brasil) para sucedê-lo, por uma decisão de Rui, o PT resolveu voltar ao proscênio. Fez, no entanto, uma escolha tão insensata, ainda por cima de supetão, que só ajudou na consolidação do netismo na política baiana. Os movimentos que os petistas fazem hoje com mais de um ano de antecedência em relação ao pleito de 2024 indicam principalmente que eles adotam, pela primeira vez, uma estratégia.

Ela passa, fundamentalmente, primeiro, por um desejo de desenraizar Neto e, em segundo, consequentemente, pela escolha de um candidato que possa fazer frente ao pleno favoritismo do atual prefeito. Há sinais de sobra de que os petistas não pretendem brincar em serviço. O cortejo que o governador Jerônimo Rodrigues (PT) faz ao presidente da Câmara de Salvador, o vereador Carlos Muniz, filiado recentemente ao PSDB, partido da base de Bruno, não deixa dúvidas de que, diferentemente de como agiram nas últimas eleições municipais, os petistas não estão dispostos a entrar em campo apenas por firula.


Aliás, as investidas do governador não envolvem apenas Muniz, mas a bancada estadual da legenda, o que depende naturalmente de um eventual acordo com o presidente dos tucanos na Bahia, o deputado federal Adolfo Viana, numa aproximação que o jeitoso Jerônimo busca fazer com cautela, aproveitando-se do fato de que uma ala do PSDB resolveu apoiar o líder petista Lula contra Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial. Mas não há como negar que Muniz é a cereja do bolo. Como presidente do Poder Legislativo municipal, o vereador tem inúmeros instrumentos à sua disposição para influir no jogo sucessório.


 

Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

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