“Será uma eleição disputada e muito bonita entre Wagner e Neto”
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“Será uma eleição disputada e muito bonita entre Wagner e Neto”


O deputado federal e coordenador da bancada baiana no Congresso Nacional, Marcelo Nilo (PSB), tem opiniões fortes e polêmicas sobre a articulação política do grupo encabeçado pelo PT na Bahia. O baiano, que ao longo de 2020 demonstrou insatisfação com os governistas, vai exigir um maior reconhecimento em 2022. Em entrevista exclusiva (e explosiva) à Tribuna, o pessebista dá o recado: "Se o PT realmente não me tratar com o respeito político que eu mereço e ACM Neto me convidar, vou consultar meus amigos e família para tomar uma decisão". Nilo também faz uma análise bastante incisiva sobre os recentes movimentos do governador Rui Costa (PT). Na visão dele, o vice-governador João Leão será o próximo a romper com o grupo e mudar para o reino carlista. "Leão está forte politicamente e se acha muito mais forte do que está. Não vai ser candidato a deputado federal para disputar com o próprio filho", ressalta. Ainda na entrevista, o baiano tece duras críticas contra o presidente Jair Bolsonaro e se diz traído pelo novo presidente da Câmara Federal, Arthur Lira (PP).


Tribuna da Bahia - Como está vendo os movimentos do novo presidente da Câmara, Arthur Lira? O senhor pretendia integrar a Mesa Diretora? Foi traído?


Marcelo Nilo - Primeiro, eu acho que ele começou muito mal quando não cumpriu o compromisso feito com as oposições na Mesa Diretora, quando disse que o PSB e o PT seriam representados pelas indicações do bloco - no caso, João Daniel (PT-SE) e eu. Nos bastidores, por estar forte politicamente, ele derrotou a mim apoiando Cássio Andrade (PSB-PA) e Marília Arraes (PT-PE), que votaram com ele. Acho que ele começou muito mal ao não cumprir o acordo.


Tribuna - Acredita que a oposição vai ser perseguida na gestão dele?


Nilo - Não posso avaliar o que ele vai fazer. Vou sempre avaliar o que ele fez. E ele começou muito mal. Demonstrou [quem é] retirando a imprensa de um setor estratégico [na Câmara] e colocando-a distante [do Plenário]; colocou o Banco Central para atender o mercado com a votação de autonomia, que eu votei contra. Se qualquer candidato a presidente da República ganhar contra Bolsonaro em 2022 - seja Lula, Haddad, Ciro, Dória, Huck ou quem quer que seja -, vai ter que manter a política econômica do Bolsonaro porque o diretor do Banco Central terá um mandato de quatro anos. Quem tem que decidir a política econômica é o povo, quando elege o seu governante. Quem tem que ter mandato é o presidente da República, o governador, o prefeito e os parlamentares eleitos pelo povo.


Tribuna - O apoio de Bolsonaro a Arthur Lira na Câmara Federal tira a independência da Congresso Nacional?


Nilo - Com certeza. Tenho medo de o Congresso ser um puxadinho do Palácio do Planalto. Ser um apêndice do Palácio do Planalto. Acho que o Congresso tem que ter um papel determinante e fundamental na consolidação do processo democrático. O que o Congresso tem que fazer? Elaborar leis e fiscalizar os atos do Poder Executivo. Se Bolsonaro tiver muita influência na Câmara e no Senado, consequentemente deixaremos de ser independentes. Os poderes têm que ser independentes e harmônicos. Não posso julgar o futuro de Rodrigo Pacheco [novo presidente do Senado] e Arthur Lira. Tenho que julgar sempre os atos deles. Se for um puxadinho, como parte da imprensa diz, pode ter certeza que nós vamos denunciar. O Congresso tem que ser independente e harmônico.


Tribuna - O impeachment de Bolsonaro é viável ou fica distante com Lira no poder? Ele colocaria em apreciação? Quais condições seriam favoráveis? Ou essa discussão está sepultada?


Nilo - Os dois impeachments que tiveram no Brasil, Dilma e Collor, aconteceram por decisão das ruas. Por que não teve o impeachment de Temer? Porque o povo não foi para as ruas. Se o povo for para as ruas, é claro que Arthur Lira vai ter que pautar o impeachment. O parlamentar é fruto da decisão popular. Eu votaria a favor do impeachment. Acho que temos as condições políticas de fazer o impeachment. Dilma não fez 1% do que Bolsonaro está fazendo. Neste momento, o povo ainda não foi para as ruas.


Tribuna - O DEM e o PSDB facilitaram a eleição de Arthur Lira?


Nilo - O DEM nunca foi centrão. Sempre foi oposição aos governos Dilma e Lula. E independente do governo Bolsonaro. Agora, essa decisão de ficar independente no processo eleitoral terminou ajudando o Lira. O DEM e o PSDB foram os dois partidos que derrotaram Baleia Rossi [adversário de Lira na corrida pela presidência da Câmara], que perdeu as eleições quando perdeu 50% do PSDB e 60% do DEM. Quem votou em Baleia Rossi fomos nós, que somos os partidos de centro e de esquerda. Somente 30% da direita votou em Baleia. A extrema-direita votou em 0%. Quem derrotou o Lira, na minha visão, foram a neutralidade do DEM e do PSDB. Quando os parlamentares que gostam de votar para quem ganha sentiram o abandono do DEM e do PSDB, aí realmente foi uma debandada completa. Quem votou em Baleia foi o grupo de oposição.


Tribuna - Como o senhor vê esse momento de Bolsonaro? Há espaço para uma eventual candidatura em 2022?


Nilo - Política é uma coisa muito dinâmica. Bolsonaro está muito mal pelo negacionismo. Não defendeu a vacina e nem a vida, defendeu aglomeração e o não uso da máscara. Nós só estamos tendo vacinas fruto de uma decisão política do governador de São Paulo [João Dória]. Se o governador de São Paulo não avisasse que começaria a vacinar, Bolsonaro não teria comprado as vacinas. Comprou apenas para não chegar depois. Bolsonaro, na Bahia, as pesquisas mostram que ele tem menos de 20% de aprovação. Quem tiver o apoio de Bolsonaro aqui na Bahia em 2022 vai perder a eleição para governador. Isso é um fato. Bolsonaro na Bahia é muito fraco.


Tribuna - O ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), é aliado de Bolsonaro. Inclusive, recentemente, deu declaração de que não pode descartar neste momento uma aliança. E ele aparece como pré-candidato ao Governo da Bahia. Acredita que ele vai chegar forte em 2022? Tem cacife para derrotar o PT?


Nilo - ACM Neto é um candidato fortíssimo. Acho que vai ser uma eleição disputada e muito bonita entre Jaques Wagner é ACM Neto. São dois candidatos fortíssimos. Na minha visão, vai ganhar as eleições aquele que tiver candidato à presidência da República popular no nosso Estado. O ACM Neto precisa de alguém que não puxe ele para baixo. E o Wagner também. Os dois são muito fortes. Será uma eleição muito disputada e difícil para ambos os lados. Vai ganhar as eleições quem tiver um candidato competitivo. Lula ajudou muito Wagner a ganhar de Paulo Souto em 2007. Em 2014, Rui foi eleito por Lula, Dilma e Wagner. Somente em 2018 que a diferença de Rui Costa para Zé Ronaldo era muito grande.


Tribuna - Como Rui Costa vai se comportar em 2022, na sua visão?


Nilo - A chance do PP ficar conosco é você pegar um helicóptero, soltar uma gota d'água no oceano e depois ir procurá-la de barco. Leão está forte politicamente e se acha muito mais forte do que está. Não vai ser candidato a deputado federal para disputar com o próprio filho. Quem conhece a política sabe disso. Se Otto mantiver a candidatura a senador, como todos os analistas políticos acham, e Wagner for para o Governo, não teremos Leão na chapa e nem Cacá [Leão, deputado federal e filho do vice-governador]. Então, na lógica da política, é que Leão vai para o outro lado. E aí você me pergunta: Por que Rui Costa está fazendo tudo para não perder Leão? Porque Rui é pré-candidato à Presidência da República e não quer passar para o mundo político nacional que brigou com o vice-governador. Inviabilizaria a candidatura dele a presidente. Se Rui Costa for candidato a presidente, pode ter certeza que Wagner será amplamente favorito. Então, eles dois, que são inteligentes, sabem que para ter as condições precisa passar para a sociedade brasileira que o vice é aliado.


Tribuna - Se ACM Neto te convidasse para integrar a chapa dele em 2022, mudaria de grupo?


Nilo - Em 2010, Wagner me convidou para ser senador. Eu não quis. Ele colocou Walter Pinheiro. Em 2014, ACM Neto me convidou para ser senador de Paulo Souto. Eu também não quis. Em 2018, eu não pleiteei a majoritária porque não estava com condições políticas favoráveis. Ou seja, acho que não tinha força política para pleitear. Em 2022, terei todas as condições políticas de pleitear uma vaga na majoritária. É óbvio que a preferência é o nosso lado. Eu sou aliado do PT há 30 anos. Se o PT realmente não me tratar com o respeito político que eu mereço e ACM Neto me convidar, vou consultar meus amigos e família para tomar uma decisão.


Tribuna - No ano passado o senhor teve discussões com a cúpula do PSB na Bahia e chegou a declarar que poderia sair do partido. Ainda persiste esse desejo?


Nilo - Pessoalmente, eu me dou muito bem com Lídice da Mata [presidente do partido no estado]. É uma amizade de mais de 45 anos. Não levamos nossa amizade para a política. Agora, eu sou deputado federal e não tenho um único membro na Executiva Estadual. O caso de Poções foi uma coisa que me deixou chocado, porque eu era o mais votado e eles preferiram apoiar o candidato de ACM Neto. Se tivessem mantido o critério do partido ficar comigo, hoje nós teríamos um prefeito em Poções. Esse caso me magoou muito. Vou conversar com Lídice e quero ter participação no diretório estadual, fruto da minha força política. Sou deputado federal e tenho dois deputados estaduais muito próximos a mim. Acho que temos que sentar e entender o espaço conforme a minha força política. Se eles me derem, ficarei satisfeito. Se não me derem, vou sentar e ver o que é melhor.


Tribuna - O senhor recebeu convites de outros partidos? Começou alguma negociação?


Nilo - Não, quero continuar no PSB. Gosto muito do PSB e sou muito respeitado, tanto por Lídice, como pelo presidente nacional Carlos Siqueira. Sou respeitado por um grupo forte no partido. Cheguei lá e fui indicado por maioria esmagadora para disputar a vaga de deputado federal representando o PSB. Agora, não posso continuar sem membro na Executiva. 100% dos membros lá são ligados a Lídice. Eu quero sentar com ela pacificamente e dizer que preciso do meu espaço. Tenho certeza absoluta que ela me dará. Porque a política não é feita de relações pessoais, mas também de relações políticas na sua forma. Acho que estou no meu melhor momento da vida pública e política no Estado. Sou talvez o candidato mais conhecido da história da Bahia que ainda não disputou uma majoritária.


Tribuna - O senhor gostaria de ocupar qual vaga na majoritária?


Nilo - Senado ou vice. Sei que Otto tem a preferência, agora tudo vai depender da força política. Em 2014, eu era muito mais forte politicamente que Leão. Por que ele foi o vice e não eu? Porque ele chantageou e disse que mudaria de lado se não fosse o vice. E as pessoas sabiam que eu não mudaria de lado. Fui preterido mesmo sendo mais forte. Eu sozinho tinha 62 prefeitos. O PT todo tinha 51. Eu tinha 8% nas pesquisas de opinião e ele tinha 2%. Por que Leão foi escolhido? Simplesmente porque ele disse que mudaria de lado.


Tribuna - Em 2020 o senhor teceu críticas contra a articulação política do governador Rui Costa. Como está a sua relação com ele hoje em dia?


Nilo - Não fiz críticas pessoais. Fiz críticas políticas. Ele nunca me chamou para conversar. Eu o respeito e ele me respeita. Trato ele como governador e ele me trata como coordenador da bancada baiana, mas ele nunca me chamou para conversar. Conversei várias vezes com ele durante esse período de seis anos, dizendo que ele deveria fazer mais política. Ele é um homem inteligente, é um bom filho, um bom marido e um bom irmão. É um bom governador e, para mim, é o maior gestor que conheci na vida. Coloco as duas mãos no fogo pela seriedade e honestidade de Rui Costa. Se você faz um elogio em 99% das vezes e quando você faz uma crítica de que ele não estava fazendo política, é o que dá manchete. Quando fiz uma crítica que todo mundo fez e sabe que é verdadeira, as pessoas não gostaram. Mas estive com ele posteriormente e nunca tocamos no assunto. Ele me tratou com muito respeito e eu também o tratei com respeito. Faço minhas críticas até para ajudá-lo. Tenho uma relação fraternal com Wagner e uma relação respeitosa com Rui, mas não sou da cozinha de Rui. Depois que ele foi governador, perdemos a aproximação pessoal. Antes de ser governador, Rui Costa e eu almoçamos, passávamos o fim de semana na minha casa em Guarajuba, era uma amizade fraternal. Depois que ele virou governador, o cargo nos afastou. Mas sempre nos tratamos com muito respeito.


Tribuna - Em 2022 teremos 16 anos de governos petistas. Como o grupo irá contornar o desgaste natural do tempo?


Nilo - O PT só apoia o PT. É um fato. Nem Otto, nem Leão, nem Marcelo e nem ninguém será candidato a governador enquanto eles estiverem na cadeira de governador. E isso eles não escondem. Você tem que apoiar sabendo disso. Nunca imaginei que eles fossem me apoiar [quando fui pré-candidato a governador]. Imaginava que iria crescer para eles serem obrigados a me apoiar. Se você ver em Salvador, o PT fragilizado lançou a Major Denice e teve 18%. Foi uma surra política. Então, o PT só apoia PT e isso é uma coisa ruim, porque 16 anos de poder desgasta. Se você prestar atenção, o governo carlista ficou 16 anos no poder. E aí vem a fadiga. Eu acho que isso é uma coisa que vai favorecer Neto, que é conhecido como bom gestor e jovem. Agora, Wagner tem uma história na Bahia. Derrotou Antônio Carlos Magalhães em vida. Foi um grande governador e é um grande homem público. Será uma disputa muito bonita entre Wagner e ACM Neto.

 

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